O Simpósio

V Simpósio Luso-Brasileiro em Estudos da Criança

Realizado, com periodicidade bianual desde o ano de 2012, o  Simpósio Luso-Brasileiro em Estudos da Criança, terá a sua 5ª edição em 22, 23 e 24 de julho de 2020, na cidade Guimarães, no Norte de Portugal.

O Simpósio constitui um espaço de encontro de investigadores e investigadoras de Portugal e do Brasil, com extensão a outros e outras que comunicam cientificamente em língua portuguesa e que partilham uma conceção de conhecimento sobre a infância que coloca no centro das suas pesquisas a voz da criança e que se orienta pela promoção do bem-estar, da inclusão social e dos direitos das crianças.

Ao longo das várias edições, por ordem da respetiva sequência temporal, foram assegurados: o estado de arte dos estudos da criança, as  perspetivas epistemológicas e metodológicas, as questões da interdisciplinaridade e a condição da criança como cidadão político.

Guimarães, a primeira capital histórica de Portugal e cidade nomeada pela Unesco como património cultural da humanidade, receberá todos os investigadores e investigadoras de Portugal e do Brasil, interessados em discutir e refletir sobre o tema genérico  Infância (ar)riscada – política, educação e resistência(s).

Infância (ar)riscada – política, educação e resistência(s)

As crianças têm sido ao longo dos tempos riscadas das agendas políticas e científicas.

Apesar de  constituírem objeto de múltiplos estudos e de em torno delas se terem erigido disciplinas científicas próprias (desde a Puericultura, à Psicologia do Desenvolvimento), a verdade é que foi numa perspetiva predominantemente adultocêntrica que esses estudos e pesquisas historicamente se desenvolveram.

As crianças foram tidas predominantemente como objeto do cuidado dos adultos, as preocupações científicas centraram-se no modo de agir destes para com aquelas e mesmo quando assim não era, a perspetiva dominante centrava-se no modo da criança se tornar adulto.

O que a criança pensa e faz, as culturas da infância, os seus modos de ação e as suas lógicas ou foram rasuradas ou consideradas secundárias face ao devir-adulto, ou mesmo desprezadas como “coisa de criança”, motivo, quiçá de curiosidade e encantamento.

Na verdade, historicamente,  o ato de riscar a vida das crianças pela ciência apenas contornou as formas da infância e raramente assumiu as crianças como sujeitos de pesquisa.

Os estudos da criança são chamados a desempenhar um papel porventura ainda mais relevante nos tempos atuais em que se acentuam fortes sinais de agravamento da sociedade de risco .

O desenvolvimento de formas de governação que procuram inverter direitos longamente lutados e conquistados por movimentos de trabalhadores, de mulheres, de negros, de homossexuais, mas também, de defensores de direitos da criança; a emergência de novos horrores da infância promovidos pelas políticas xenófobas e racistas institucionalizadas que condenam á morte por afogamento de milhares de crianças no mediterrâneo e á colocação em grades e afastamento dos pais de crianças hispano-americanas na fronteira dos Estados Unidos com o México; as alterações climáticas, promovidas por uma economia do carbono alicerçada na ganância e na predação dos recursos naturais e a catástrofe anunciada que consigo transporta; o aumento das desigualdades sociais no mundo entre países e entre grupos populacionais; o desenvolvimento de ideologias discriminatórias, segregadoras, racistas  e contrárias ao conhecimento científico; as formas culturais propagadas pela indústria das multinacionais de conteúdos e pelas redes digitais  indutoras da alienação, da violação da intimidade e da promoção do hiperconsumismo; o aumento do belicismo numa sociedade que parece ter adotado a violência como modo dominante de resolução de conflitos entre povos; a violação das regras de convivialidade, seja no espaço urbano, pelo incremento de situações de violência, de sinistralidade e de insegurança, seja no espaço doméstico onde a violência de género assume proporções alarmantes – tudo isto são indicadores com forte impacto na vida das crianças e os mais importantes fatores de risco.

Identificar esses fatores, propor orientações e políticas alternativas, identificar os movimentos e processos de resistência e fazê-lo com as crianças é aquilo que o Simpósio convida todos os investigadores e investigadoras a fazer, apresentando comunicações nos quatro eixos em que o programa se desdobra.

Para cada um desses eixos, haverá um painel assegurado sempre por diálogos luso brasileiros e realizar-se-ão sessões temáticas que acolherão as produções académicas que têm vindo a ser desenvolvidas nos dois contextos.

Espera-se que este seja um momento de partilha de comunicações que consigam ser arriscadas em novas perspetivas de conhecimento e ação sobre e com as crianças.